Volume 11 - Issue 55
/ July 2022
19
https:// www.amazoniainvestiga.info ISSN 2322- 6307
DOI: https://doi.org/10.34069/AI/2022.55.07.2
How to Cite:
Costa de Castro, N.J., Tavares Parente, A., Ferreira de Aguiar, V.F., Dias Borges, W., & Pastana Ferreira, I. (2022). Ações político-
sociais frente à COVID-19: colaboração e produção de produtos tecnológicos. Amazonia Investiga, 11(55), 19-28.
https://doi.org/10.34069/AI/2022.55.07.2
Ações político-sociais frente à COVID-19: colaboração e produção de
produtos tecnológicos
Political and social actions towards COVID-19: collaboration and production of
technological products
Received: July 1, 2022 Accepted: August 10, 2022
Written by:
dile Juliane Costa de Castro6
https://orcid.org/0000-0002-7675-5106
Andressa Tavares Parente7
https://orcid.org/0000-0001-9364-4574
Viviane Ferraz Ferreira de Aguiar8
https://orcid.org/0000-0003-3025-1065
William Dias Borges9
https://orcid.org/0000-0002-7671-7855
Ilma Pastana Ferreira10
https://orcid.org/0000-0002-9152-3872
Resumo
Objetivo: Descrever ações de uma entidade de
Enfermagem no combate à pandemia da COVID-
19 na Amazônia brasileira Métodos: Estudo
descritivo do tipo relato de experiência a partir de
pesquisa documental por meio de documentos
contemporâneos utilizando como ferramentas as
mídias sociais e apreensão dos significados e
atitudes, realizado no período de agosto a
dezembro de 2020 e analisado por meio da
Teoria da Atividade. Resultados: Foram
identificadas ações relativas à produção de
quatro produtos tecnológicos para proteção
individual, produção de artefatos e divulgação de
informações. Considerações Finais: As ações
foram planejadas considerando o cenário
particular da região, assim como as necessidades
inerentes ao acesso geográfico, abrangência
tecnológica e a partir da formação político-social
prevista na formação e atuação em enfermagem
usando o recurso de interações colaborativas para
efetividade das ações.
Palavras chave: Pandemias, COVID-19,
Enfermagem, Colaboração Intersetorial,
Produção de Produtos.
6
Doutora, Universidade Federal do Pará, Brasil.
7
Doutora, Universidade Federal do Pará, Brasil.
8
Mestre, Universidade Federal do Pará, Brasil.
9
Mestre, Universidade de São Paulo, Brasil.
10
Doutora, Universidade do Estado do Pará, Brasil.
20
www.amazoniainvestiga.info ISSN 2322- 6307
Introdução
Em janeiro de 2020, a Organização Mundial da
Saúde declarou o surto iniciado em Wuhan na
China como uma emergência de saúde pública
com consequências internacionais, sendo
posteriormente declarada como uma pandemia.
Esse cenário de morbimortalidade se repetiu em
vários países e representa o maior desafio à saúde
do século XXI (Full et al, 2020; Phelan et al,
2020; WHO, 2020; Giovanella et al., 2021).
Como resposta foram adotadas pela Organização
Panamericana de Saúde (OPAS) diretrizes
provisórias de prevenção e controle quando da
suspeita de infecção pelo novo coronavírus a
partir da recomendação a obrigatoriedade do uso
de Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s).
Inicialmente, percebeu-se a característica da
rápida transmissão do vírus, novas variantes, a
imperícia de autoridades sanitárias e a escassez
de insumos para o enfrentamento da pandemia
em virtude da oferta e a procura mundial por
medicamentos, álcool gel, respiradores e EPI’s,
gerando o desabastecimento e agravando o caos
sanitário (Full et al, 2020; Albuquerque &
Ribeiro, 2020; Estrela et al., 2020; Concepción et
al, 2021).
Outrora, o novo coronavírus trouxe incertezas e
dúvidas sobre suas manifestações e forma de
combate e, no caso do Brasil, as condições
socioeconômicas e os processos de
vulnerabilidades como déficit de acesso da
população tem sido elementos em destaque
(Albuquerque & Ribeiro, 2020; Estrela et al,
2020; Goes et al, 2020). Observou-se que a
medida que a disseminação global do vírus foi
crescendo identificou-se estratégias como da
necessidade de adaptação da gestão das equipes
que estavam à frente desse processo e das rotinas
dos serviços o que subsidiou novas organizações
e rotinas das equipes de saúde nos diversos
setores (Concepción et al, 2021; Araújo et al.,
2021; Lazzari et al, 2022; Fernandez et al., 2021).
No Brasil cadeias de suprimentos regionais
foram uma alternativa na escassez na escala
global, corroborando que as estratégias de
produção local diminuíram o impacto do déficit
de suprimento e das recomendações como
proposta pela OPAS. E, diante dessa
necessidade, intervenções práticas voltadas ao
combate à COVID-19 são necessárias. Por isto,
torna-se fundamental subsidiar com tutorais o
aprendizado para a produção destes artefatos e a
socialização do conhecimento aos profissionais
de saúde que estão na linha de frente, bem como
de usuários (Fernandez et al, 2021) de
instituições com acentuada vulnerabilidade à
COVID-19, como instituições asilares.
Neste cenário, que o terceiro setor formado pelas
organizações sem fins lucrativos prestadoras de
serviços de utilidade pública, foram
protagonistas com um conjunto de atividades
voluntárias desenvolvidas em favor da
sociedade. Foram ações que desenvolveram a
competência social evidenciado por meio das
ações universitárias durante a pandemia o que vai
ao encontro das ações efetivadas pela entidade
(Nasi et al., 2021).
Por lidar com um fenômeno de grande
magnitude, essas pandemias também afetam o
comportamento humano, a organização social, a
vida cotidiana e as relações de respostas
atribuídas pelas pessoas à sua resolução e
confronto, assim como os profissionais de saúde
envolvidos (Perencevich, et al, 2020). Em
paralelo, algumas iniciativas de grupos sociais
surgiram, como as ações humanitárias de
enfrentamento a COVID-19 que revelam redes
de solidariedade mediadas pelas Tecnologias
Digitais de Comunicação e Informação (TDCI) a
fim de sensibilizar indivíduos e grupos. O uso
destas tecnologias vem sendo apontando como
parte do processo da cultura cibernética e de
aceleração de produção e publicações
potencialmente utilizada no percurso de
enfrentamento da pandemia (Lévy, 2010;
Teixeira et al, 2021; Celuppi et al, 2021).
No contexto da escassez de equipamento de
proteção individual, o que levou a reutilização e
improvisação (Godoy et al, 2020), a associação
desenvolveu ações através de seus membros,
diretoria e os departamentos que a compõem, e
elaboraram o projeto “ABEn Pará no combate à
pandemia de COVID-19”, que teve o propósito
de construir uma rede de colaboração para
produção de artefatos de proteção, distribuição
de insumos e uso de tecnologias leves. O objetivo
desta investigação é descrever ações de uma
entidade de Enfermagem no combate à pandemia
da COVID-19.
Referencial Teórico
O este estudo é baseado na Teoria da Atividade
Histórico-Cultural (TA) e pelos processos
posteriores na sua revisão (Vygotsky, 1978;
Engestron, 2001). A TA foi iniciada por
Vygotsky, seguiu-se por três gerações e contitui-
se por ações mediadas por artefatos e por ações
que envolvem individuos e sociedade. Ao longo
Costa de Castro, N.J., Tavares Parente, A., Ferreira de Aguiar, V.F., Días Borges, W., Pastana Ferreira, I. /
Volume 11 - Issue 55: 19-28 / July, 2022
Volume 11 - Issue 55
/ July 2022
21
https:// www.amazoniainvestiga.info ISSN 2322- 6307
das gerações observou-se que a unidade de
analise antes focada nos individuos, é superada
na segunda geração pelo conceito de atividade e
das relações entre os indíviduos e suas
comunidades. A terceira geração possibilita ir
além, inserida questões quanto a diversidade
cultural e das redes de interação (Lemos et al,
2013). As interações observadas pelos estudos de
Ergestron (2001) possibilitaram entender como
as mediações são importantes para alcance de um
objetivo.
Nestes termos, a escolha desta teoria baseou-se
nas multiplas ações para enfrentamento
observadas no percurso da pandemia. Nos
primeiros anos, em adição, as instituições de
educação e de representatividade de profissões
constituiu-se como promotoras de ações
articuladas para combater o avanço da COVID-
19, com destaque para os profissionais de
Enfermagem. As mobilizações para ações e
estratégias identificadas envolveram as
universidades, iniciativa privada e setores
governamentais, que envolveram varias áreas de
conhecimento, com destaque para a área de saúde
(Santiago et al, 2022; Stralen et al, 2022).
Ressalta-se que no Brasil, o profissional de
Enfermagem possui entidades de classes que
regulam o exercício profissional, que zela pelo
pela qualidade e serviços prestados por estes
profissionais a partir de legislações do Conselho
Federal de Enfermagem (COFEn). Em paralelo,
organizações sem fins lucrativos, que tem
cárater cultural, científico e político que
congrega profissionais, faculdades, escolas e
cursos, regida e regulamentada por estatuto
nacional da Associação Brasileira de
Enfermagem (ABEn). Logo, destaca-se a
importância de registrar ações destas entidades
para melhoria da qualidade de vida da população
e sobretudo para articulações entre os diversos
setores da sociedade.
Metodologia
Estudo descritivo do tipo relato de experiência,
realizado por meio de pesquisa documental de.
Foi realizado por meio de registros de mídias
sociais oficiais da entidade via página
Faceboook, sendo possível identificar títulos,
períodos, acessos e métricas. Usou documentos
contemporâneos e apreensão dos significados e
atitudes, levando em consideração aspectos
culturais e históricos (Engestron, 2001). As ações
foram realizadas no período de março a
dezembro de 2020 por meio de atividades
mediadas por TDCI. Participaram membros de
uma seção da ABEn da região Norte. A
divulgação e publicização das ações ocorreu a
partir de abril de 2020 por meio da
implementação das mídias sociais iniciadas em
março de 2020 para fins de comunicação entre os
profissionais, estudantes e demais interessados.
A fonte de dados foram o acervo e as métricas do
Facebook. Os membros da entidade tiveram
como suporte para transmissão o StreamYard.
A inclusão dos documentos foi mediante o
registro realizado nos canais oficiais da seção da
entidade. Foram excluídos os registros teste e
aqueles que o faziam parte do projeto sobre a
temática central. A análise dos documentos
utilizou os apontamentos da Teoria da Atividade
(Engestron, 2001). Considerando que aspectos
históricos envolvidos com contexto da ação e por
meio de interações mediadas pelas TDCI.
O trabalho não necessitou de autorização do
Comitê de Ética considerando que se trata de um
estudo documental. No entanto, resguarda-se os
demais princípios éticos de uma pesquisa.
Resultados e discussão
Foram analisados 04 produtos e a partir deles
suas descrições. As ações foram realizadas de
forma voluntária, pelos associados da entidade de
classe e demais organizações de ensino superior,
serviços de saúde e entidades sociais por meio de
interações mediadas por TDCI. Permitiram o
desenvolvimento de quatro produtos
tecnológicos que foram resultados das estratégias
utilizadas no projeto de combate à COVID-19
como observado no Quadro 1. Foram
desenvolvidos três tutoriais de acordo com o
objetivo e destino do material produzido,
conforme o Quadro 2. Quanto aos webinários
científicos foram abordadas 19 temáticas ao total,
disponíveis em formato virtual, realizadas no
período de abril a junho de 2020, conforme
exposto no Quadro 1.
22
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Quadro 1.
Descrição dos produtos produzidos como estratégias no combate a COVID-19.
Produto
Descrição
Quantitativo*
Protetores faciais
(face shields)
Produção artesanal e doação de protetor facial ajustável de
Acetato Filme de Poliestireno Cristal, fita de Espuma
vinílica acetinada e elástico (Baseado na Resolução RDC
356)
3.500 unidades
Máscaras de uso
não profissional
Produção e doação de máscaras artesanais de uso não
profissional (Baseado na Resolução RDC 356)
500 máscaras
Webinários
Webinários científicos com convidados e moderadores de
diferentes regiões do país debatendo os temas
relacionados a pandemia da COVID 19
19 Webinários / 93
Convidados e
moderadores / 23.712
visualizações
Tutoriais
Divulgação de protocolos técnicos para iniciativas de
multiplicação de produção de protetores e mascaras
02 sobre produção de
protetores faciais e
01 sobre produção de
máscaras faciais
Fonte: Autores, 2022
Quadro 2.
Descrição dos produtos produzidos como estratégias no combate a COVID-19.
Produto
Tutoriais
Protetores faciais
Máscaras
artesanais de uso
não profissional
Objetivo
Orientar sobre a técnica
utilizada na construção de
face shields e máscara
artesanal.
Construir uma
barreira/anteparo para
proteção às gotículas e
aerossóis.
Aprender o passo a
passo para produzir
máscaras
Destino
Profissionais e estudantes
da área da saúde, técnicos
de enfermagem, idosos e
familiares e comunidade
em geral.
Unidades de Saúdes e de
Pronto Atendimento,
Hospitais e Instituições de
Longa Permanência para
Idosos (ILPI)
Idosos de
Instituições de ILPI
Fonte: Autores, 2022
Quadro 3.
Descrição das ações como estratégias no combate à CoVID-19 via Facebook
Mês
Tema
Instituições envolvidas
Público-alvo
Comentários/ visualizações
Abril
Apresentação do projeto
1
Profissionais,
estudantes, técnicos
da área da saúde e
comunidade em
geral
63 / 570
Tutorial para produção de
protetores faciais
3
41/ 1900
Paramentação e
desparamentação
3
188/ 1200
Tutorial para produção de
máscaras de uso não
profissional
3
Profissionais,
estudantes, técnicos
da área da saúde,
ILPI, ou Atenção
Básica. Idosos,
familiares,
cuidadores e
comunidade em
geral.
39 /631
Cuidado a pessoa idosa na
prevenção da COVID-19
no contexto domiciliar e
de ILPI
2
177 / 2100
Volume 11 - Issue 55
/ July 2022
23
https:// www.amazoniainvestiga.info ISSN 2322- 6307
Maio
Processo de Trabalho do
Enfermeiro frente à
pandemia da COVID-19.
5
Profissionais,
estudantes, técnicos
da área da saúde, e
comunidade em
geral
291/ 1500
Processo de Trabalho do
Enfermeiro frente à
pandemia da :COVID-19.
5
Profissionais,
estudantes, técnicos
da área da saúde e
comunidade em
geral.
291 /1500
Pluralidades amazônicas:
qual o novo desafio frente
à pandemia?
7
323 / 2600
Formação em
Enfermagem em tempos
de pandemia da COVID-
19.
6
IES, Instituições de
ensino técnico,
professores e
alunos de
enfermagem e
comunidade em
geral.
503 / 1000
Cuidados paliativos à
pessoa idosa em tempos
de pandemia
6
Gestores,
profissionais da
saúde, profissionais
da área da geriatria
e gerontologia,
idoso, cuidador,
estudantes da área
da saúde e técnicos
de enfermagem e
comunidade em
geral.
364 / 1300
Atendimento à pessoa
idosa na Atenção Básica
frente à pandemia da
COVID-19
6
434 / 1800
Processo de Enfermagem
no contexto da COVID-
19: compromisso social na
identificação de
necessidades e uso de
linguagem padronizada
4
Gestores,
profissionais,
estudantes e
técnicos de
enfermagem, IES e
técnico de
enfermagem e
comunidade em
geral.
176 / 1200
Enfermagem em foco: de
Florence Nightingale ao
contexto da COVID-19
7
434 / 1800
Financiamento da Atenção
Básica, Iniquidades da
Amazônia e Pandemia:
Novos Rumos?
7
129/1300
Organização e
Enfrentamento dos Povos
da Amazônia Frente a
Pandemia da COVID-19
6
Gestores,
profissionais,
estudantes e
técnicos de
enfermagem e área
da saúde, IES e
técnico de
enfermagem,
comunidade
ribeirinha, povos
indígenas e
comunidade em
geral.
158 / 1400
24
www.amazoniainvestiga.info ISSN 2322- 6307
Junho
Processamento de
produtos respiratórios para
a saúde em tempos de
Pandemia da COVID-19
4
Setor hospitalar,
gestores,
Profissionais,
estudantes, técnicos
da área da saúde;
IES e técnico de
enfermagem e
comunidade em
geral.
221 / 1361
Experiências Vivenciadas:
como interagir e dar
continuidade no cuidado à
pessoa idosa a partir do
uso de tecnologias
virtuais?
4
Gestores,
profissionais,
estudantes e
técnicos área da
saúde, profissionais
da área da geriatria
e gerontologia,
idoso, familiar,
cuidador e
comunidade em
geral.
151 / 914
Lições Aprendidas com a
imunização durante a
pandemia da COVID-19
4
Gestores,
profissionais,
estudantes e
técnicos da área de
saúde ou
enfermagem e
comunidade em
geral.
107 / 349
Tecnologias em tempos de
pandemia
5
64 / 434
Urgência e emergência
frente à pandemia
5
132/500
Fonte: Autores, 2022
A crise sanitária global, exigiu a adoção de
intervenções para o controle da transmissão do
vírus e enfrentamento dos impactos (Full et al,
2020; Albuquerque & Ribeiro, 2020). Entre as
medidas, incluem o isolamento de casos; o
incentivo à higienização das mãos, à adoção de
etiqueta respiratória e ao uso de máscaras faciais
artesanais; distanciamento social, proibição de
eventos e atividades que promovam
aglomerações. A sustentabilidade e a efetividade
destas medidas visaram proteger a população,
especialmente os mais vulneráveis e assim
garantir a sobrevivência (Albuquerque &
Ribeiro, 2020). Era necessário, portanto,
inciativas institucionais de apoio e promoção,
descritas através da produção, doação e
orientações como das ões identificadas no
Quadro 1.
Neste sentido iniciativas mediadas por
tecnologias e que fomentassem a interações
sociais foram identificadas como possibilidades
de ações entre pares, atividades observadas em
contextos históricos como das pandemias
(Vygotsky, 1978; Engestron, 2001). Tais
iniciativas tornaram-se essenciais, pois com a
pandemia estabelecida, fábricas de máscaras
cirúrgicas e outros EPI’s, concentradas na China,
foram fechadas o que contribuiu para a escassez
crítica desses produtos de interesse mundial (Full
et al., 2020; Albuquerque & Ribeiro, 2020). Em
contrapartida, o Centro de Controle e Prevenção
de Doenças - CDC recomendou o uso de máscara
de tecido para o público geral (Nasi et al., 2021).
A disponibilização para orientação, produção e
distribuição de máscaras de tecido gerou uma
mobilização de instituições e comunidades diante
da demanda para contenção dos casos, o que vai
ao encontro das medidas adotadas pela entidade
conforme o Quadro 2.
Destaca-se que os protetores faciais não
requerem materiais especiais para a fabricação e
as linhas de produção podem ser reajustadas
rapidamente, como ocorreu com várias empresas,
incluindo Apple, Nike, GM e John Deere, que
aderiram à produção de protetores faciais.
Produzidos a partir de material artesanal, em
geral podem ser reutilizados, higienizados e
contribuem na barreira contra aerossóis nos quais
podem estar presentes microrganismos como os
vírus, impedindo que quem usa toque no próprio
rosto (Nasi et al., 2021). Esta tem sido a
alternativa mais viável para os serviços de saúde
e até os demais serviços do segundo setor e/ou
setor produtivo.
Volume 11 - Issue 55
/ July 2022
25
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Como medida de ação social e política, reitera-se
que a entidade de Enfermagem fundada em 1926
teve seu primeiro estatuto social aprovado em
1944. É uma associação de caráter cultural,
científico e político que congrega profissionais
de Enfermagem de nível superior e técnico. Sua
seção promotora das ações tem registro de
fundação no ano de 1950 e tem se articulado
socialmente com outras instituições a fim de
realizar as finalidades da associação quanto às
questões político-sociais. Por uma perspectiva
sociointeracionista a ação promovida pela
entidade enfatiza a importância desta como
mediadora para o desenvolvimento dos produtos
tecnológicos, despertando seus membros e
provocando por meio das mídias sociais
dinâmicas para ações políticas e solidárias
(Vygotsky, 1978; Engestron, 2001).
Percebe-se que o momento histórico e a função
da entidade alinham-se sobre o papel do
Enfermeiro diante da COVID-19. E, por meio
das entidades de classe e os movimentos políticos
que sustentam a formação em Enfermagem,
contribui-se para o desenvolvimento do
profissional em vários âmbitos, inclusive
fortalecendo uma atuação acadêmica politizada
(Vendruscolo, 2018). Ademais, o atual cenário
sanitário tem evidenciado problemas sociais e
sobretudo do impacto da pandemia nos
trabalhadores de enfermagem inclusive pelo
déficit de insumos (Albuquerque & Ribeiro,
2020; Perencevich et al., 2020) o que corrobora
para a necessidade destas instituições para com
os movimentos de solidariedade, inclusive para
combater episódios de desmonte do Sistema
Único de Saúde por uma perspectiva política
(David et al, 2021).
Embora a implementação de medidas
preventivas e políticas tenha sido destroçada pela
atual conjuntura dos representantes políticos na
esfera federal a partir de discursos negligentes e
medidas sanitárias tardias (David et al., 2021), a
contramão, estas entidades têm buscado
esclarecer sobre a COVID-19 para além dos
profissionais de saúde, de modo voluntário e
buscando evidências científicas para construção
dos produtos. Ressalta-se que a logística
considerou os grupos prioritários, mapeamentos
das entidades com maior necessidade para
receberem os face shields e as máscaras de uso
não profissional, por meio de redes
institucionais, o que favoreceu o engajamento
nas redes como demonstrado no Quadro 3, o que
representa um dos pilares da instituição
(Vendruscolo, 2018).
sobre os temas propostos apresentados por
meio dos webinários e mediados pela TDIC,
constatou-se que apresentaram potencial para
viabilizar a formação continuada e alcançar
profissionais de grupos e espaços geográficos
diversificados, o que potencializa funções e
iniciativas para o desenvolvimento profissional,
haja vista as mediações instrumentalizam os
profissionais para o intelecto e ações político-
sociais (Vygotsky, 1978; Engestron, 2001).
Além disso, permitiu a informação
interdisciplinar, interação virtual e mostrou a
divulgação científica como instrumento para
informações sobre a condição de trabalho em
Enfermagem (Barbosa et al., 2021).
Corroboraram, portanto, para que os temas
propostos fossem diversificados e alcançassem
um público-alvo de diversas categorias de
enfermagem, saúde e de grupos específicos como
proposto pela entidade de classe para fins de
formação (Vendruscolo, 2018).
As estratégias adotadas pela instituição
descentralizaram a informação e a participação
de profissionais de saúde a partir do cenário
geográfico da região por meio da interação de
diversidade de instituições (Quadro 3).
Constatou-se mais uma vez, que TDIC têm sido
um meio profícuo para compartilhar informações
e atenuar o impacto da pandemia no contexto
educacional e de saúde e evidenciado a interação
como importante em processos que articulam
entre entidades e indivíduos que dela participam
(Barbosa et al., 2021; Engestron, 2001).).
os webinários que visavam a socialização da
informação tiveram suas limitações, e, apesar de
conseguirem evidenciar o lugar de fala dos
profissionais que trabalhavam na linha de frente
da COVID-19 e ter ressignificado as redes
sociais como uma ferramenta de trabalho por
meio de várias frentes, apresenta-se limitada pela
desigualdade no acesso e para democratização da
informação pela internet (Barbosa et al., 2021).
Para além disso, em função do formato “live
que depende do sinal de internet no momento da
transmissão, a instabilidade em alguns momentos
foi um fator limitante para dialogar com grupos
em situação de vulnerabilidade social.
Entre outros elementos é necessário destacar as
condições de desigualdades da Amazônia que
são perceptíveis por meio das condições
espaciais que vivem tanto os profissionais de
saúde como dos demais grupos, o que aumentou
a vulnerabilidade à dispersão da COVID-19
(Concepción et al., 2021). Contribui para isto as
limitações de acesso a estas tecnologias em
territórios das populações amazônicas o que vem
26
www.amazoniainvestiga.info ISSN 2322- 6307
potencializar as desigualdades digitais nestes
grupos em função do déficit do acesso aos
serviços da internet, deixando notório
desigualdades históricas envoltas a problemas de
ordem geográfica e de populações específicas no
Brasil corroborando para as desigualdades
digitais e de saúde.
Uma das dimensões do trabalho da enfermagem
é o Agir Politicamente (Kalinowski & Cunha,
2020), nesta dimensão se enquadra o processo de
trabalhos das entidades de classes da
enfermagem como a ABEn. O protagonismo
desta entidade que é a mais antiga da
enfermagem no Brasil reforça suas finalidades
estatutária que é a articulação com os setores da
sociedade em defesa da vida, dos direitos sociais
e da saúde. O Projeto contribuiu pelo meio digital
com a ampliação do alcance de informações
seguras e necessárias sobre a pandemia, assim
como divulgar formas alternativas e urgentes de
produção de máscaras e protetores faciais (face
shields).
O alcance deste projeto por meio das redes
sociais da entidade demonstra a capilaridade
social que ela tem. O agir politicamente com base
científica foi um diferencial em meio a falta de
alternativas e um contraponto ao perigo do
negacionismo científico, infelizmente propalado
pela gestão atual do governo federal. Outrora,
apoiado nas ideias de Vygotsky (1978),
Engestron (2001), por uma perspectiva sócio-
histórica e cultural identifica-se como atividades
realizadas dentro destas entidades organizadas
torna-se uma práxis evidenciada pela pandemia.
Conclusões
A experiência retratou as ações para captação de
recursos para produção, distribuição de artefatos
e informação para proteção e prevenção contra a
pandemia da COVID-19, bem como das
estratégias para diálogo sobre a pandemia a partir
dos diversos cenários e especialidades em
Enfermagem. Demonstrou como o uso de TDIC
para difusão das informações teve um impacto
positivo para a instituição que alcançou
visibilidade nacional e fortaleceu seu papel social
previsto em seu estatuto. As plataformas digitais,
de acesso público à diversidade de temáticas
pode ser acessada em tempo real ou postergado,
tornou-se um espaço dinâmico e acessível sendo
um mediador essencial para um movimento
importante de solidariedade para com os pares e
de resposta à tardia ação das autoridades
sanitárias. Logo, ficou evidente que as práticas
colaborativas pelo uso da TDIC tornaram-se
estratégicas para a efetivação dos objetivos de
instituições de classe de Enfermagem, pois
amplificam tanto a visibilidade da profissão
como da participação de seus membros
associados e demais profissionais de
Enfermagem que estão no enfrentamento da
emergência em saúde pública. Além disso, urge
a necessidade de articulações de ordem político-
social pela Enfermagem para que a categoria
ocupe espaços de protagonismo e deliberação
contribuindo para o fortalecimento do Sistema
Único de Saúde e das políticas estratégicas para
enfrentamento e organização em situações em
que a saúde global esteja em pauta.
Nesse estudo, as limitações foram em duas
dimensões: operacionais e tecnológicas
relacionados a falta insumos para confecção dos
protetores faciais e as limitações de
deslocamento em virtude do contexto geográfico
amazônico e as dificuldades com a tecnologia
remota de alguns membros associados.
O relato enfoca em práticas colaborativas a partir
de entidades de classe e como estas podem ser
potencializadas por meio do uso de TDCI
diminuindo as barreiras geográficas,
tecnológicas , demonstrando que iniciativas de
cunho político e social devem ser construídas ao
longo da formação, a partir da competência em
comunicação, e processo de trabalho da equipe
de saúde e em rede de apoios. Apresenta os uso
de recursos de comunicação para a formação do
profissional de saúde a partir de especialidades e
participação de autoridades, mostrando a
possibilidade de descentralização da informação.
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